SENTIR DOR E BOM

O título desta reflexão pode assustar e parece vindo de uma mente masoquista ou até mesmo sádica. De fato, ninguém gosta de sentir dor, seja ela física, emocional ou espiritual. Tem dor pior que a dor de dente? Ela traz, por tabela, dor de cabeça, dor no olho e irritação. Curiosamente, existe uma criança entre 400.000, que nasce com uma enfermidade rara, chamada “desautonomia familiar”, doença essa que atinge o sistema nervoso autônomo e que se caracteriza pela total ausência de dor, ou seja, a pessoa perde todas as sensações. Pode se cortar, se queimar, quebrar a perna e não sentir dor. Ótimo, não é mesmo?? Na verdade, isso é grave, pois pessoas assim morrerão com infecções internas, sem sentir os sintomas de dor. Só se percebe a gravidade de sua enfermidade tarde demais. O rabino Harold Kushner, em seu livro “Quando Coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas” (Ed. Nobel, 1981), reflete sobre a necessidade de sentirmos dor; não que seja ótimo sentir dor, mas a dor é um aviso que o organismo humano envia para nos lembrar de que alguma coisa não está indo bem e que precisa ser regularizado. É uma oportunidade para revisarmos nossa saúde. Outras vezes a dor vem em virtude de esforços que fazemos superiores àqueles que podemos suportar. Para Kushner, “a vida seria perigosa, talvez impraticável, se não pudéssemos sentir dor” (p.67). A dor, seja ela física, emocional ou espiritual, é um custo de nossa existência humana. A leitura do livro de jó deixa um sentido que não podemos explicar conveniente sobre a origem e o porquê de determinadas experiências dolorosas, mesmo que num âmbito geral, com o pecado do casal no Éden, o sofrimento se tornou uma marca do ser humano. Não creio em um Deus que fica sentado em seu trono de Glória, enviando dores para nos punir ou nos testar, como se fôssemos marionetes em suas mãos. Mas, sei que posso crescer e me tornar mais humano à medida que enfrento algumas experiências dolorosas, podendo assim trabalhar alguns aspectos de minha vida, moldados a partir de um novo momento. Não é a “causa” da dor, mas o seu “efeito” que pode trazer algum sentido à nossa vida. As coisas acontecem, mas “Deus” faz com que todas concorram para o bem daqueles que o amam...” (Rom. 8:28). Compreendo-me assim como um “vaso de barro” rachado (II Co. 4:7), recipiente da graça de Deus, onde opera o Seu poder.

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