QUANDO A MORTE FAZ MAIS QUE A VIDA


 
Vivemos em um mundo pós-moderno. Fato? Há quem diga que não, mas, assim como eu, muitos outros acreditam na existência do fenômeno da pós-modernidade e refletem sobre suas implicações no cotidiano das pessoas.
Estava certo dia pensando acerca de como o corre-corre de nossas vidas nos faz esquecer coisas simples, mas de extrema importância para nossa existência. Um elemento específico que me chamou a atenção foi o valor que damos à morte. Fiquei pensando sobre como temos encarado a presença deste “ser” que inevitavelmente nos visita.
credito que os que me lêem, em algum momento da vida, já assistiram a algum desenho animado. Pois bem. Existe uma imagem cristalizada da morte: uma figura, geralmente magra, trajando uma roupa preta (que não permite a visualização do seu rosto), e portando um tipo de foice. Em outros casos, há a representação da figura incômoda como um esqueleto. Para essa breve reflexão, farei uso da primeira imagem (me agrada mais).
Se vocês prestarem atenção, lembrarão que ambas as imagens possuem traços humanos. A partir disso comecei a me inquietar com algumas idéias que assomaram a minha mente. Como já falei anteriormente, o mundo pós-moderno nos leva a esquecer, às vezes, a deixar de lado, atitudes simples, mas tocantes. Na nossa agitação diária, esquecemos que a morte poderá chegar a qualquer momento, para nós ou para aqueles que amamos e que nos amam. Esquecemos que a vida é apenas um momento, e muitas vezes, bem breve. A verdade é que sempre viveremos pouco, mas o suficiente.
Por vivermos apenas pensando no dia de amanhã, deixamos de lado a possibilidade de experimentarmos momentos de felicidade ao lado das pessoas que amamos. Quantas famílias não sofrem porque os pais se preocupam em dar o melhor para o futuro dos filhos, mas se esquecem que a construção do porvir depende do presente? Não se pode viver a vida futura sem antes se passar pelo presente, pelo palpável.
Às vezes, deixamos a morte ser mais carinhosa do que nós. Não quero dizer que todos nós somos omissos ou que o que fazemos é de total inútil, não se trata disso, mas que podemos e devemos cuidar mais uns dos outros. Não deixemos que o abraço da morte seja mais presente que o nosso, não deixemos que a morte diga que ela é mais atenciosa do que nós. Sei que sempre teremos a sensação que poderíamos fazer mais e mais por alguém, mas, no nosso íntimo, sabemos quando fizemos o que estava ao nosso alcance, e isso nos tranqüilizará. Não podemos permitir sermos desumanizados pelo fato de que o mundo se permitiu a desumanização. Vamos viver consciente da realidade. Existe uma frase que não sei ao certo de quem é, algumas pessoas me disseram que era de um escritor norte-americano, que diz que “devemos ver as coisas como se fosse o último momento em que as vemos”. Não! Não se trata de pensarmos assim, devemos ter consciência da morte, mas não vivermos em função dela. Devemos viver em função da vida. Devemos mostrar vida através do nosso amor, nossa atenção, nosso testemunho.
O nosso futuro está nas mãos de Deus, não existe cuidado maior. Com isso temos duas missões: fazer com que outros permitam que suas vidas também sejam entregues aos cuidados de Deus e cuidar daqueles que precisam de nós em todos os âmbitos da nossa vida: família, amigos, trabalho, Igreja. A partir da nossa “nova humanização” que Cristo nos dá, podemos humanizar o mundo. Que Deus nos abençoe e oriente neste sentido. Amém.

Professor do Curso de Extensão em Música

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